Cocinando en la cocina de carbón: El Vuelo


 RecordandoME no olvido y vuelo

“Somos menos libres de lo que creemos, pero tenemos la posibilidad de conquistar nuestra libertad y de salir del destino repetitivo de nuestra historia si comprendemos los complejos vínculos que se han tejido en nuestra familia”.
Anne Ancelin Schützenberger

Nestes dias lendo e ouvindo contos, recordandoME e recordando as minhas mulheres, viajando pelos meus contos, viajando pela minha história, reencontro-me com as tonalidades que a desenham e redescubro as cores dos factos-acontecimentos que se repetem, das datas ou das idades que desenham a teia das minhas ancestrais. Vejo como (sem me precatar de que o faço) a tendência-armadilha é para contar os mesmos contos que elas… talvez seja a minha forma de honra-las e ser-lhes fiel. Aproximo-me um pouco mais do meu rio-memoria e sinto como esta lealdade é falsa, é um espelho mágico que me engana quando lhe faço preguntas vãs.

«Espejito, espejito ¿quién es la más amada de este reino?»

Mas esta lealdade que se repete geração pós geração, útero pós útero… é a que empurra a minha linhagem ovárica a acolher o desejo inconsciente de não estar por cima do homem (do pai, do marido…) ou a de casar com príncipes oxidados, achando que são cintilantes cavaleiros ou a de dar a luz mais meninas que meninos ou isto ou aquilo…
Intuo que esta lealdade excede os limites do verossímil: Conhecem a história da Vendedora de Fósforos? E a da Capuchinho Vermelho? Pois é, na minha família umas são meninas que “morren” congeladas e outras devoradas pelo lobo. Como mulheres estão impulsadas por uma poderosa e inconsciente fidelidade a sua/nossa família e tem uma grande dificuldade em inventar algo novo!

Mas por entre os flocos de neve e as dentuças dos lobos, descubro meninas na minha família (mulheres) que usam ou tentam usar a capa vermelha de outra forma, não para se esconder detrás dela mas para voar como mulheres conscientes e recuperarem e restaurarem a coragem de olhar do outro lado do espelho. Para recuperar a coragem de entrar no bosque e desarmar as ratoeiras que se apresentam em forma de doenças, mortes, abortos naturais ou acidentais, abortos provocados e adopções, abandonos, violaçõesadultérios, acontecimentos secretos, filhos bastardos e maridos alcoólicos.… Todas estas vivências são o suficientemente dolorosas como para que nenhuma as queira mostrar. Mas uma vez no bosque já não podemos fechar os olhos porque o espelho responde-nos com outra pregunta:

«O que acontece quando por vergonha, por medo ou conveniência, não falamos das violências que sofremos, ou de um abandono ou desaparecimento suspeito, ou das falhas da mãe ou…?»

O silêncio que se faça sobre a adição de uma mãe ou o abandono de um filho ou de um nascimento estranho ou da violação de uma criança ou das tareias que uma prima recebia do marido ou qualquer outra ferida escondida, criara uma zona de sombra na memória-útero das próximas mulheres da linha genealógica materna, quem para cobrir esse vazio e preencher essas fendas, repetira no seu corpo ou na sua existência o drama que se lhe tenta ocultar. Ou seja, casará com o príncipe oxidado e será uma “boa” mulher ou então, desperdiçará a sua vida procurando ser a metade da laranja e não a laranja inteira, tudo o que faça será como forma de incluir os sucessos anteriores, transgeracionalmente esquecidos.

Por isso tento não me esquecer que…

… no útero da minha mãe eu sonhava o que ela sonhava e foi no seu útero protector que pude ver todas as imagens do seu inconsciente e do inconsciente da minha linha genealógica materna por isso quando me deram a minha primeira capa vermelha, ainda criança,  fiquei feliz por fazer parte da sua historia mas sabia que dentro de alguns anos eu teria de descobrir a minha própria maneira de usar a capa vermelha. Naquela época não sabia como se iria desenrolar o meu conto-vida mas descobri precocemente o fim que quero que tenha:

«Y ella vivió feliz por siempre, teniendo sexo como deseara, usando la ropa que ella quisiera y sin importarle una mierda lo que la gente pensara.»



Um abraçO

Aida Suárez© Agosto, 2012

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